sábado, 2 de junho de 2012

Cadente


Já pensou se te encontro na próxima esquina?
Ou naquele olhar ao redor que damos quando, em algum momento, estamos desinteressados no assunto que domina a mesa do bar;
buscando alguém interessante para olhar, algum acontecimento exótico, ou algo que atice uma memória para trocar o foco do momento.
Quem sabe em uma dessas buscas das pupilas, encontre um olho que esteja brilhando mais que os outros;
ou um sorriso que se sobressaia aos demais... pelo menos ao meu gosto.
Ou ainda, da próxima vez que eu entrar em um ônibus, para ir à um lugar qualquer, você sente no banco da frente e eu consiga ler seu nome quando abrir a carteira para pegar o cartão magnético.
Melhor, numa longa viagem, onde eu possa tomar coragem de te oferecer um biscoito e te perguntar para aonde está indo.
Imagine, no show da nossa banda preferida?! Nos empolgando no refrão da música que ninguém liga, mas é a que a gente mais gosta!
No meio da Sapucaí, na recepção do dentista, na fila da padaria.
Na loja que entrei, e experimentei todas as camisas para tentar atrair sua atenção.
Esperando para ser servida do meu lado, no open bar, para eu te dar a vez e ganhar um sorriso seu.
Na xerox da faculdade, copiando o meu poema preferido, do meu livro preferido.
No estádio, disfarçada de flamenguista para fazer o gosto do seu pai e fingindo estar feliz com aquele gol de falta.
Na sacada do seu prédio, olhando o tempo passar.
Subindo a escada rolante do shopping, enquanto, do outro lado, desço aos seus pés.
Deitada no parque, descansando da vida, enquanto aprecia o que ela te oferece.
Talvez nosso primeiro contato seja feito pelas pontas dos dedos;
talvez seja feito aos berros, enquanto tento sobrepor minha voz às batidas eletrônicas ao fundo.
Ficando chateada ao ver o preço do By The Way na prateleira das Americanas.
Ou quem sabe o semáforo nos coloque lado a lado?
Ou um amigo em comum nos coloque frente a frente?
Ou em qualquer lugar que a luz possa te refletir para mim, ou o ar possa trazer seu som e o vento seu cheiro.
Mas, desculpe, acho melhor não esperar.
Porque dificilmente se vê uma estrela cadente quando se está deitado sob o céu esperando por ela;
se vê quando, de relance, volta sua atenção para a noite, e se assusta com a velocidade de um brilho na imensidão escura.

sábado, 3 de março de 2012

Mar de saudade

Obrigado por aparecer assim.
Eu sem pretensão, e você com menos ainda.
Começando assim, uma história só para loucos.
Segui seus passos e fiquei descalço, segui seus lábios e fiquei perdido.
Fechando os olhos para te beijar, era eu, você e o mar.
E hoje quando fecho os olhos, sou só eu - e mesmo distante - o som do mar.
Os encontros diários lavavam meu corpo e minha alma.
E eu voltava sorridente, cantando músicas sobre a chuva sob a chuva.
Uns dias, um susto, um clima, uma sintonia. Uma despedida.
E não há nada pior do que apenas uma despedida.
Eu queria despedir de você todos os dias, ou, ainda melhor, todas as noites. Acordando com um novo 'bom dia'.
E assim você me trouxe de volta a saudade. Saudade que aperta, dói e incomoda. E muito.
Mas me faz lembrar todos os dias que você é real.
Não preciso mais te trazer dos meus sonhos, só te trazer pro meu lado.


domingo, 22 de janeiro de 2012

Nem para explicar, nem para complicar. Muito pelo contrário!




Sabe, na verdade, eu não quero muito.
Só deitar e rabiscar as nuvens do céu de manhã e trocar umas estrelas de lugar à noite;
atravessar o mar correndo e subir a montanha à nado. Para não fazer nada. Ou só por fazer.
Baixar a cabeça para a dificuldade, olhar para o pé dela e lhe dar uma rasteira.
Quero uma casa com cachoeira no alto da montanha, só que no meio do mar.
Quero muito sentimento, muita dor, muito calo no pé e na mão.
Quero que o mosquito passeie pelo meu braço sem que eu me incomode.
Quero ser a mosca na sua sopa. E ter várias amigas moscas.
Ser amigo da onça, do leão, da cobra, do percevejo, da cigarra e da formiga.
Quero casar com uma rainha e morar numa colmeia.
Mas não quero mandar, não nasci para isso. Vou trabalhar com minhas operárias e tirar férias até de ser rei.
Quero nunca tirar férias da minha rainha, que vai ser pra sempre minha princesa.
Quero pular de pára-quedas da torre mais alta do meu castelo, soltar dele na metade, bater minhas asas e voar.
Ou pelo menos tentar.
Quero voar o dia inteiro. Abrir todas as gaiolas e jaulas e colocar todo mundo para voar comigo.
Um enxame de bagunça. Levar para voar o papagaio e a tia solteira, o pirata e o Peter Pan.
Quero voar com os golfinhos e os pinguins de Madagascar.
Mergulhar com o gato, o cascão, o piu-piu e o frajola.
Vou contar pro Madinbu, pro Freeza, pra Equipe Rocket, pro Pegasus e pro Vingador que ser bonzinho é muito mais divertido!
Que meu ídolo era bonzinho, mas cansou dos maus e foi morar no Alaska para que ninguém lembre dele;
só que ele foi esquecido de se esquecer que quem é bonzinho, é querido e é lembrado. E agora todo mundo lembra dele o tempo todo!
Vou fazer Hitler apertar a mão do Bob e Bob apertar um pro Hitler.
E ainda vou contar pra ele que ser líder é para os fracos!
E que os fracos são os mais fortes. Porque o Anderson Silva não aguentaria 5 minutos de porrada verbal com Gandhi!
Vou perguntar Ghandi por que ele é baixinho se ele é tão grande.
E ele vai perguntar pro papai do céu por que tamanho não é documento;
E ele vai contar pra todo mundo que o mundo não foi feito pra ser entendido;
que a evolução é burra, que o burro é inteligente, e que os valores estão todos invertidos.
E que ninguém vai ter que esperar 2012 acabar pra saber disso.
Mas o que eu quero mesmo é avisar para esse povo que todo mundo é um só, mas que cada um é cada um.
Porque o impossível depende do ponto de vista, e para as maiores viagens não é preciso nem mesmo sair do lugar!